A Travessia, o relato de Alain Bigio, é sobre outra saída do Egito. Desta vez a de sua família e de tantas outras, como a minha, na década de 1950. É a história de muitos judeus egípcios que tiveram que abandonar suas casas, bens, famílias, enfim, a vida em seu país, e buscar uma relativa segurança, enfrentando o desconhecido, a alternativa que ficava do outro lado do mundo, com hábitos, língua e paisagem tão diferentes. O Brasil nos acolheu, e Alain ilustra essa trajetória de forma sensível e elucidativa, além de nos fazer refletir sobre as perdas e os novos ganhos. \n \nA leitura é ágil, contempla a família de origem de Alain, seus pais, tios e primos, com minúcias mas, sobretudo, com muito afeto, ao mesmo tempo em que delineia todo o panorama e as dificuldades enfrentadas pelo garoto Alain, depois adulto. São fatos que nos fazem pensar, são revelações autênticas de alguém que se sentiu motivado a prestigiar sua procedência, a esclarecer e tentar explicar o que se passou e a deixar um legado a seus descendentes. Narra as pequenas e grandes vitórias alcançadas e as grandes e pequenas dificuldades que foram surgindo, a aceitação agradecida pela nova oportunidade de vida, sempre preocupado em esclarecer um aspecto que parece fundamental: a identidade de um judeu que precisou abandonar suas raízes e sair de sua terra, o Egito.